27 de jun. de 2011

A Essência e A Existência

BOGDAN SUCHODOLSKI em sua obra A pedagogia e as grandes correntes filosóficas procurou dividir as manifestações pedagógicas originadas desde a antiguidade até a atualidade em duas correntes distintas: a pedagogia da essência e a pedagogia da existência.

A pedagogia da essência foi iniciada por Platão e desenvolvida pelo cristianismo. Platão diferenciou no homem o que pertence ao mundo das sombras (o corpo, o desejo, os sentidos) e o que pertence ao mundo das idéias (o espírito na sua forma pensante). A pedagogia da essência procura pesquisar tudo que é empírico no homem e entender a educação como ação que desenvolve no indivíduo a sua essência "verdadeira". O cristianismo segue esses rumos do pensamento platônico, inclusive as concepções de Santo Agostinho, considerando, evidentemente, as diferenças devidas. Nessa fase, há uma reafirmação do ideal dualista de homem e de mundo. Similar à educação em Platão, na pedagogia cristã deve-se buscar tudo o que aproxima o homem ao divino e evitar as coisas terrenas, mundanas. Com algumas restrições, São Tomás de Aquino também procura seguir a mesma linha de pensamento.

Porém, no Renascimento esses ideais pedagógicos cristãos e platônicos são questionados. A vida social, a tradição e principalmente a autoridade clerical são cada vez mais contestadas. Nesse período, surgem também as indagações sobre o que se entende por essência. Será ela única, universal e manifestada de forma semelhante em todos os homens ou há uma diversidade? Há construção, transformação da essência? Mesmo sob críticas e indagações a pedagogia da essência consegue ser mantida pelos jesuítas, através de uma orientação mais tradicional; e pela natureza, como algo liberal e laico.

Eis que surge nesse momento, a visão de Rousseau, este transfere a concepção de natureza metafísica para o olhar empírico. “Se o homem é bom por natureza, a educação não deve ser concebida de modo a conduzir à destruição de todo seu eu empírico e ao renascimento da sua ‘verdadeira essência’ oculta; a educação poderia apoiar-se sobre a totalidade do homem empírico...”.( p .46). Rousseau por se interessar pela vida cotidiana do homem foi o primeiro a sugerir uma pedagogia da existência. Desde modo, a pedagogia é voltada para o olhar concreto do homem, ele tal como é.

A pedagogia da existência se fortalece nas concepções evolucionistas de Darwin e Spencer. A evolução é uma das características essenciais da realidade, é o que faz abandonar a autoridade passada e valorizar a presente. Mas é no século XX que Copérnico revoluciona as concepções educacionais. A criança agora é vista como sujeito da educação, sua atividade é valorizada e tudo o que despertar seu interesse, curiosidade e criatividade deve ser adotado no processo educacional.

“Unir educação e vida de modo que não seja necessário um ideal – ou definir um ideal tal que a vida real não seja necessária – eis os dois extremos do pensamento pedagógico da nossa época”. (p.123). Como é praticamente impossível a fusão das concepções pedagógicas da essência com a existência, já que a sociedade burguesa não contribui para isso, é possível seguir outro caminho: a trilha da educação direcionada para o futuro.

Essa obra de Suchodolski representa uma das grandes referencias da perspectiva socialista dentro da educação. Essa análise crítica e histórica a cerca da pedagogia deixou sua obra, além de original, enriquecedora para pesquisas de âmbito pedagógico. A sua proposta de educação voltada para o futuro é um tanto quanto pertinente, o que representa uma critica aos modelos educacionais adotados hoje em dia, por nós. Enfim, o que Suchodolski vem nos propor é que; a realidade em que vivemos não é a única e, portanto, não deve ser tida como o único critério de se pensar educação.

Suchodolski crê que, é somente através da participação na luta para criar um mundo humano que possa dar a cada homem condições de vida e desenvolvimento humanos, que a jovem geração se pode verdadeiramente formar. Tal é a única via que permitirá resolver os conflitos seculares que existem entre a pedagogia da essência e a pedagogia da existência e superar as tentativas falhadas de conciliação destas duas pedagogias. Com efeito, somente quando se aliar a atividade pedagógica a uma atividade social, que vise evitar que a existência social do homem esteja em contradição com a sua essência, se alcançará uma formação da juventude em que a vida e o ideal se unirão de modo criador e dinâmico.

SUCHODOLSKI, B. A pedagogia e as grandes correntes filosóficas. Lisboa, Horizonte, 1984.

Escrito por Izabela Moreira Alves.